Ela fica
remoendo pensamentos do tipo: Quando será que...? Como será? Mas, e se isso e
aquilo? E se isso não... ? E se acharem aquilo outro... ?
Falo em
remoer, no literal sentido de seus sinônimos: incomodar, enfadar, entediar,
enfastiar, desgastar. Porque é isso que acontece, quando a cabeça gruda no futuro
e não desprega de lá, acabando por gerar uma paralisação, ou seja, a ação estágna.
Esse deslocamento "abusivo" da cabeça para o futuro faz com que o indivíduo vá se distanciando do momento
presente e do contato consigo mesmo.
Lembro que,
enquanto individualidade, cada um é sujeito de ação; sujeito da própria
história e; também, está sujeitado a ações e não ações. Por outro lado, a ação só é efetivamente concretizada
no momento presente.
O deslocamento
disfuncional da cabeça para o futuro,
distancia o sujeito do momento presente, e também de si mesmo. E, quanto
mais se distancia, mais a ansiedade é potencializada, formando um círculo
vicioso, uma bola de neve, que tende a aumentar e potencializar a ansiedade
disfuncional, cada vez mais.
Na meditação exercita-se
o voltar a atenção para o presente, focando no aqui e no agora, como na percepção
de si mesmo e do em torno, repito, no momento presente.
Então, nesse
sentido, a meditação pode auxiliar na retomada da consciência do momento presente, deslocando a cabeça de volta
para o aqui e agora, ao se conectar, por exemplo, com o próprio corpo; assim, ela
pode auxiliar o sujeito a se desagarrar da ruminação enfadonha do futuro. Ou
seja, ela, meditação, é uma prática que possibilita, que favorece, que instrumentaliza
para o rompimento do ciclo adoecedor da ansiedade disfuncional.
Mas, cabe
reiterar, quantas vezes forem necessárias, que a meditação não é um “pó mágico”.
A meditação é um exercício diário, que
pode viabilizar o resgate mais promissor do ponto de conforto, quando se vive
uma ansiedade, evitando que ela se torno uma disfuncionalidade, e mesmo um
adoecimento. Deixo claro, que essa não é a sua função primordial, e sim um bônus
adquirido com a sua prática.
Lembro, ainda,
que a ansiedade por si não é uma doença. A ansiedade é um movimento natural do corpo, que sinaliza que o indivíduo
está vivendo uma experiência que, de alguma forma, é ameaçadora ou está tirando-o
do ponto de conforto e, em função disso, ele precisa estar atento. Na ansiedade
“funcional”, o corpo é bombardeado por hormônios que colocam o indivíduo em
estado de prontidão para agir, reagir, modificar e equacionar, dentro do
possível do momento, revertendo o quadro aos padrões de conforto.
Porém, quando
o processo natural é interposto, por um outro estímulo que desencadeia nova
urgência de prontidão, os níveis hormonais permanecem altos, fazendo com que as
manifestações corporais, por exemplo, venham ajudar a tornar visível o que está
acontecendo na sutilieza da psiquê.
Os novos
estímulos que se interpõem podem ser, por exemplo, pensamentos reiteradores de
fracasso. Muitas vezes, isso é tão recorrente, que o indivíduo nem se dá conta
de que este virou um padrão de pensamento adoecedor. Tampouco, o indivíduo
consegue localizar a própria capacidade e o autovalor, tamanho é o
distanciamento e a descrença de si mesmo, potencializando ainda mais o seu
desconforto e a disfuncionalidade.
Meditar não é
um sinal de que vamos deixar de viver ansiedade, porque a ansiedade cumpre um
papel protetor no corpo – quando falo corpo, eu me refiro às suas diferentes
esperas: físico, emocional, mental, espiritual e relacional - mas, com certeza, com a prática da meditação podemos fazer diferente.
Para finalizar, meditar é se permitir estar consigo, dando-se a chance de “plasmar” alternativas internas favoráveis, que possibilitem, quando necessário, o retorno aos padrões funcionais do corpo, com mais facilidade, podendo-se assim, minimizar os níveis disfuncionais da ansiedade e, consequentemente, o adoecimento.
Maria Tereza Naves Agrello[1]
[1] Psicóloga, CRP-MG: 13.506; professora de Educação Física, MEC-LP: 3047; formação em Leitura Corporal e; especialização em Docência e Prática da Meditação.