Pular para o conteúdo principal

Desejo

        Ao longo da história aprendemos - às vezes explicitamente às vezes nas entrelinhas - que a vida é um caminho de sofrimento e dor.
           Ainda hoje, apesar de tantas mudanças, continuamos pagando um alto preço por essa cultura que privilegia o sofrimento e teme o desejo.
Apesar de toda revolução cultural e comportamental, falar em desejo continua a assustar, visto que no imaginário popular, ainda existe a dimensão de que desejo está associado a prazer, prazer esta ligado à sexo e sexo é pecado, ou sujo e imoral.
E neste contexto do desejo, prazer e sexo esbarramos no corpo, no nosso corpo.
Ainda hoje, apesar de todas as conquistas e mudanças na forma de ver, entender e experimentar o mundo, ainda trazemos em nossos corpos os registros e as estagnações de centenas de anos de prazeres negados e desejos abafados e esquecidos.
Certamente, por algum motivo ou motivos, isto foi necessário para a nossa evolução enquanto individualidades e enquanto humanidade. Mas estamos mudando. Estamos ficando mais atentos a esta “coisa” chamada desejo.
Mas o que é desejo? Desejo é:
o querer verdadeiro, que responde a uma necessidade essencial;
é a chama ardente que vem do fundo da alma e ilumina o nosso caminho de evolução; 
é uma deixa do universo que nos coloca em contato com o que realmente queremos;
é movimento vibrante do Ser que nos desvela o melhor de nós mesmos;
é a capacidade de vibrar no corpo aquilo que está inscrito no universo;
é a possibilidade de dar forma àquilo que realmente viemos fazer nesta vida.

Ainda no imaginário popular, acredita-se que se nos permitirmos seguir os desejos vamos, de alguma forma, nos dar mal. 
Por exemplo, no âmbito profissional se formos seguir nosso desejo, fazendo o que gostamos, acredita-se que vamos morrer de fome, logo é necessário escolher uma profissão que dê dinheiro e não necessariamente prazer ou satisfação. 
Num outro exemplo, acredita-se que se o “gordinho” for seguir seu desejo alimentar, vai explodir de tanto comer e assim por diante. 
Mas a constatação não é esta. 
O desejo é o regulador mestre da nossa existência corporal e, conseqüentemente, das nossas necessidades. 
Afinal, desejos são centelhas da Luz Divina, fragmentos da Luz Maior que orientam nossa trajetória mais genuína.
        Eu diria que a fração do Todo Maior, Universal e sutil, que cabe a cada um de nós, chega à nossa materialidade via desejo. Assim, o impulso que nos pertence e que foi vibrado pelo universo é armazenado no corpo via desejo.
        No movimento fluente e saudável do desejo ele sai do anonimato,  vai para a consciência e se torna realidade concreta.
Para entender este movimento é preciso deixar claro que desejo conta, por exemplo, de um potencial do sujeito ou de uma necessidade. 
Um outro detalhe importante é que o universo não nos desperta nada que não possamos realizar, logo, se há um desejo existe também uma habilidade para realiza-lo. 
Assim sendo, vamos tentar entender o fluxo do desejo a partir de um exemplo:

Num determinado sujeito existe o desejo de escrever um livro. 
Depois que o desejo se torna consciente, vem a vontade de concretizá-lo e recursos são buscados para isso ( comprando um computador, buscando informações sobre o assunto ...) até redigindo o texto propriamente dito. 
Aquele produto para a ter seu jeito, sua marca, sua identidade, sua assinatura, sua autoria. É como se ele dissesse: este é o meu texto, este é o meu desejo.
         Assim, o desejo vibrado torna-se concreto e passa a fazer parte da realidade do indivíduo e do universo, cumprindo seu papel Divino de força motriz para a vida prazerosa e plena de satisfação.
           
        Na prática cotidiana, para se resgatar o movimento saudável de Seres desejosos que somos não precisamos fazer coisas mirabolantes, basta resgatar o simples, escutar o corpo e permitir-se ...
Permitir-se degustar a água desejada pela sede;
permitir-se saborear a iguaria vislumbrada pela pupila;
permitir-se tomar o sorvete salivado pela boca;
permitir-se tomar o banho de chuva desejado pela pele;
permitir-se tocar a pele desejada pelas mãos;
permitir-se pisar o barro desejado pelos pés;
permitir-se ...
permitir-se ...
permitir-se ... 
permitir-se desejar, permitir-se ter prazer.



Maria Tereza N. Agrello
Texto produzido em 2005

Postagens mais visitadas deste blog

Segmento cefálico: relaxamento e meditação

Na correria do dia a dia e com o excesso de preocupação, não é raro sentirmos a cabeça cheia, os olhos cansados...  E, se pararmos para perceber, nos deparamos com a boca presa, o rosto tensionado... e até as orelhas enrijecidas.   No áudio de hoje, vamos mesclar uma prática de relaxamento, com foco no segmento cefálico e a meditação guiada.  Boa prática!!! Pratica meditativa de relaxamento segmento cefálico e meditação guiada p31221g21221 Maria Tereza Naves Agrello CRP-MG: 13.506 Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Sustentabilidade corporal

Boa tarde!!! Sustentabilidade. Esse é um termo muito frequente na atualidade. No site http://www.sustentabilidade.org.br/   , Portal da Sustentabilidade, encontramos o seguinte conceito: "Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.  Propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.  A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro." A INDANÇA - dança terapêutica e de promoção de saúde -, comunga dessa visão e propõe pensar o corpo a partir do eixo da sustentabilidade. ...

Outro dia em cena no Castelo

Boa noite!!! Hoje, novamente tive o prazer de participar do espetáculo no Castelo de Amboise. Acabei de chegar. Foi super legal.  Ao final depois do espetáculo, os integrantes ficam no gramado onde acontece tudo, para que os turistas possam vir conversar e tirar fotos.  Nessa hora, encontrei um grupo de brasileiros de São Paulo. Eles não compreenderam toda a história e vieram me perguntar. Fiquei muito honrada em poder passar um pouco dessa bela história para eles, especialmente sobre a contribuição do meu ídolo, Leonardo D'Vinci (rsrsrsrsrsrsrsr).  É muito legal também ver o envolvimento das pessoas de todas as idades.  Numa das cenas, do meu lado havia um bebezinho de poucos meses, todo vestido com roupinhas da época, no colo do pai que também participa, junto com a esposa.  A disposição do pessoal mais velho é algo que chama a atenção.  Vários deles fazem várias participações diferentes. É um troca troca de roupa, danado. E fazem ttudo...