Bom dia!!!
Hoje quero falar sobre rótulos e diagnóstico. Além disso,
quero partilhar a minha preocupação com o que tenho localizado como um grande “nó”
paralisante.
Procurando o significado de rótulo no Aurélio[i] encontrei: “qualificação
simplista”. Noutro
dicionário[ii] encontrei: designação definidora, geralmente de caráter redutor.
Para mim, rótulo traz a ideia de algo concluído,
finalizado, que é assim e pronto. Não há possibilidade de maiores discordâncias.
Por exemplo:
O rótulo carrega em si, uma forma específica de se ver;
sabe-se o que esperar; não permite-se alterações.
A partir do rótulo sabemos o que virá, sabemos o que
esperar.
É aquilo ou não é. Ponto final.
Ou seja, rótulo é final de linha, é conclusão de percurso.
Em vários momentos ou contextos isso é muito bom,
bastante oportuno. Há ocasiões em que o ponto final determinado e determinante
é necessário.
Mas em outros casos...
Frequentemente, no rótulo, a designação tende a se tornar
tão incisiva que ela amordaça qualquer possibilidade expressão das diferenças,
sejam essas diferenças da casa do desejo, do pensamento, do ato ou da emoção. E
aí os atos “transformados” na transformação tornam-se mesmices congeladas e
paralisantes.
_ “É assim e ponto
final!!!”
E o diagnóstico??? Onde fica nisso tudo???
Antes de unir os dois vou passear pelo conceito de
diagnóstico[iii]: "recolher e analisar
dados para avaliar problemas de diversa natureza; determinar e conhecer a
natureza de algo".
Na minha perspectiva,
diagnosticar quer dizer procurar, investigar uma série de variáveis – sinais,
sintomas, vivências cotidianas, ambiente, contexto, relações, dentre tantos
outros – envolvidos num determinado quadro.
Normalmente lidar com o
desconhecido é bastante difícil. Então o diagnóstico pode ajudar a dar
um norte, uma direção, uma linha de condução para resolução de um dado problema.
Nesse sentido,
diagnóstico é localização de caminhos e início de caminhada.
Cada um – rótulo e
diagnóstico - tem seu papel, cada um tem sua função.
Entretanto, muitas vezes
confundimos esses dois e chamamos “gato por lebre”.
Colocamos rótulos em objetos, substâncias, em pessoas,
sentimentos, em emoções, manifestações corporais... como se fossem sempre iguais.
Nossa dificuldade com o diferente, com o novo, com o não
conhecido (ainda) tende a nos fazer rotular, evidenciando a tentativa - normalmente precoce ou desesperada - de trazer para o campo do “conhecido” algo que
ainda não se apresentou por inteiro.
Com certa freqüência tenho observado que diagnóstico tem
ganhado o patamar de rótulo. Aí é que mora o perigo.
No meu entendimento esse é um grande equivoco visto que diagnóstico é o ponto de partida para a nova caminhada.
Vou pegar como exemplo a diabetes.
Apesar da fala popular, no meu entendimento, ser
diabético é diferente de ser portador de diabetes. Parece besteira, né???
Mas...
O indivíduo não é a diabetes, ele se faz com
características de.
“Ser diabético” traz em si a força do rótulo, do ponto
final.
E um rótulo pode tornar-se tão pesado, tão rígido e tão
estigmatizado que a luz do fundo do túnel pode ofuscar-se e o final de linha
pode parecer próximo.
Ser portador de diabetes fala de alguém que apresenta características
da diabetes, mas que também apresenta outras tantas características, que tem
outras tantas habilidades, que tem outros tantos potenciais ainda não
explorados, que tem desenhos, sonhos, necessidades e dificuldades.
Ser portador de... coloca o indivíduo no lugar de alguém
que pode apesar de; coloca-o no lugar de alguém que “pro-move”; tirando-o do
lugar de sujeitado e coloca-o no lugar de sujeito de ação e transformação da
própria história. E é aí que ela –
história – recomeça.
A diferença entre rótulo e diagnóstico é sutil.
Muitas vezes, estamos tão acostumados a rotular
conhecendo apenas “10 minutos de cena” do filme da vida de cada um, ou com algumas poucas informações de algo que é muuuuiiiiiiiitttttto maior, que nem
lembramos que é possível fazer "muito" apesar do diagnóstico que se
tenha.
Maria Tereza Naves
Agrello
psicóloga, prof. ed. física e massoterapeuta
CRP-04:
13.506 e MEC-LP: 3047
[i]
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo
Dicionário Aurélio. 2º ed., ed. Nova Fronteira, 1986.