Hoje a prosa
é sobre corpo.
Há anos venho
pensando nas múltiplas formas de se ver o corpo.
Foto Google.
Quando abordo esse tema gosto de associar com a de uma sala repleta de artistas ou de aspirantes a artistas que se prontificaram a reproduzir um belo arranjo colocado no centro. Cada um no seu canto, como satélites ao redor do objeto central, admira a beleza de suas formas e tenta retratá-la a seu modo e a partir do seu ponto de visa. Mas é impressionante como, ao comparar as produções,
Quando abordo esse tema gosto de associar com a de uma sala repleta de artistas ou de aspirantes a artistas que se prontificaram a reproduzir um belo arranjo colocado no centro. Cada um no seu canto, como satélites ao redor do objeto central, admira a beleza de suas formas e tenta retratá-la a seu modo e a partir do seu ponto de visa. Mas é impressionante como, ao comparar as produções,
cada uma é tão absolutamente diferente apesar
de retratarem o mesmo elemento.
Ao falar em
corpo, penso que cada um tem sua forma única de representá-lo, significá-lo e
interpretá-lo. Nesse texto, vou abordar a minha representação de corpo, a
partir de algumas das influências que experimentei ao longo da minha própria trajetória
de satélite.
Desde o final
do milênio passado, ou século passado, como queiram, eu tenho o prazer de fazer
parte do Núcleo de Terapia Corporal, onde faço minha continua formação de Leitura
Corporal. Essa experiência vem contribuindo significativamente com as minhas
reflexões e entendimentos sobre o corpo. Da mesma forma, os fundamentos da
Leitura vem norteando os princípios e fundamentos da Indança - prática que
venho trabalhando há anos. Nela, parto do entendimento que “corpo” é a resultante
da interligação do físico, do mental, do emocional e do espiritual.
Claro, que
esse conceito sobre grande influência da Leitura, visto que ela entende o “corpo”
como um conjunto de corpos – físico, mental, emocional, etérico, causal,
austral e celestial, tendo cada um a sua singularidades porém sendo cada um
intrinsecamente interligado à totalidade.
Minha perspectiva
sofre também a influência de Paulo Cunha e Silva que traz a idéia do “corpo
fractal” que “sendo uno e plural... apresenta permanências, invariâncias, ao
longo das escalas em que é observado”.
Nessas duas
influências, o “corpo” é o lugar onde micro e macro, fractalmente, contam a
história do cosmo; onde a grandiosidade do universo se faz micro e onde o micro
reinscreve magistralmente o macro.
Somos “corpo”;
somos esse corpo que é micro, que é macro, que expressa, revela, instiga,
excita, expande, contrai, contorce, retorce, faz, refaz, experimenta,
movimenta...
Para mim, não
é possível pensar “corpo”, sem pensar em movimento. Vida é movimento, em outras
palavras: se há vida, há movimento. Essa é a lei do universo, pelo menos a lei que
conhecemos. Então se há vida, há corpo em movimento. E, na minha ótica, sua recíproca
também é verdadeira: acrescentado movimento, acrescenta-se vida.
O
movimento é a causa de toda a vida
O corpo traz
em si um arcabouço de movimentos aprendidos, ele reflete e se inspira nessas
experiências, mas ele também conta sobre as particularidades, as vivências e
sentimentos só experimentados pelo próprio indivíduo. A partir dessa dialética,
a Indança faz emergir o corpo-dançante que possibilita que a “dança do externo”
reverbere no “interno” do indivíduo e que a “dança do interno” propague-se no “externo”
evidenciando e expressando o Ser criativo.
Gosto,
particularmente, de um conceito que a Leitura apresenta : “O corpo – veículo da
expressão – vive, registra, reage, reflete e revela os experimentos e os
aprendizados do Ser, em sua grande viagem no mundo físico”[2].
Esse
conceito, para mim, traz a dimensão do movimento implícita no corpo e, mais que
isso, ele evidencia a argúcia da vida; a sabedoria do Universo permeando cada
estrutura.
Hoje em dia,
não consigo mais pensar no corpo físico, sem pensar nas suas correspondências
mental, emocional e espiritual; não consigo esquecer sua interlocução social,
nem sua inserção no lugar em que esta, tampouco consigo esquecer sua interação
com o contexto em que esta. É na conversa entre todos esses elementos e variáveis
que o indivíduo conquista o seu lugar singular. Isso é lindamente explicitado
na fala de Silva, quando ele diz: “ É no corpo-todo que o corpo-fragmento se
significa e carrega as baterias da sua
autonomia. Assim, o Corpo exige ser
entendido a partir
de um lugar fractal: um lugar que reconhece no pormenor, mas
que o identifique no todo”[3].
Pensar o corpo,
na perspectiva da integralidade, não é uma coisa fácil, especialmente, através
dos parâmetros da na nossa sociedade que, apesar do “bum do corpo”, ainda perpetua
uma visão estereotipada e pecaminosa de corpo.
Na tentativa
de facilitar o entendimento desse tal “corpo uno”, gosto de trabalhar com metáfora:
o físico é o
estado sólido do “corpo” - palpável;
o comportamento e os movimentos correspondem
ao estado líquido – possíveis de serem vistos mas impossíveis de serem agarrados com as mãos;
o mental, o
emocional e o espiritual pertencem ao estado gasoso - a gente não vê, tampouco consegue pegar.
Todos esses
estados contam as mesmas histórias sobre o indivíduo, porém, cada um a seu
modo, com o seu próprio repertório de linguagens e símbolos.
O somatório
de todos esses estados forma a complexidade “fractal” – singular e plural / micro e
macro – de nossa existência corporal que é permeada pela sabedoria universal.
E por falar
em universal cabe lembrar que, na minha perspectiva, Universo é a parte coletiva de
Deus - da Espiritualidade Maior, ou da Grande Luz , ou como queiram chamar –, composto pelas diferentes energias divinas.
Maria
Tereza Naves Agrello
Psicóloga, prof. de Ed, Fís.
CRP-04: 13.506 e MEC-LP: 3047