A perspectiva que separa corpo e mente como se fossem fragmentos amontoados do sujeito, leva-nos a construir uma imagem de corpo e mente como duas entidades distintas e independentes.
No entanto, podem imaginar corpos “belos e perfeitos” caminhando no calçadão de Copacabana, no Rio, ou na Avenida Bandeirantes, em Belo Horizonte, enquanto suas respectivas cabeças permanecem assoberbadas, debruçadas sobre carteiras de salas de aula, ou sobre mesas de empresas e escritórios, pensando em grandes projetos intelectuais?
O corpo pode ser dicotomizado assim?
O corpo enquanto gestalt (forma) é a mediação do indivíduo com o social ao mesmo tempo em que é o registro da existência concreta do sujeito.
Corpo é o próprio existir.
Corpo é o próprio existir.
Em várias etapas do desenvolvimento do indivíduo, ou seja, no processo de aquisição da individualidade, ou da singularização do eu-sujeito, a referência concreta do corpo-gestalt é marcadamente importante.
Na primeira infância, na adolescência, na gestação, no parto, a atenção volta-se enfaticamente para o corpo-forma-transformação, que registra a efervescência da personalidade em ebulição e evidencia o eu-sujeito para si mesmo e para o outro.
Esse corpo de ação e reação é também, como disse Leila M. Pinto, um corpo que realiza obras e as oferece aos outros; que forma e se transforma na geração de vida.
É um corpo que engra-vida.
Ao engravidar, transforma-se, e cria outro corpo, também concreto e palpável; e, ao se transformar, transforma tudo e todos ao seu redor.
Falar em gravidez é falar em transformações. Transformação dos corpos da mulher e do bebê, dos sentimentos, das relações do casal, da família e sua dinâmica, dos papéis sociais, da convivência social, das interações, das responsabilidades... dentre outras tantas transformações de vida, ou melhor, de vidas. Falar em gravidez é falar em corpos-sujeitos, mutantes e mutáveis.
Maria Tereza Naves Agrello
CRP-MG: 13.506 e MEC-LP: 3047
Esse texto é fragmento do trabalho “Oficina de movimento e convivência para gestantes: construindo uma prática comunitária de lazer”, apresentado pela autora no V Congresso Mundial de Lazer, 1998.