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HISTÓRIAS QUE A DEPRESSÃO CONTA

Imagem: Justin Martin por Pixabay
Sim, depressão é uma doença, assim como outras tantas.

Porém é sempre importante lembrar que, como uma gripe ou resfriado, ela pode atingir a todos, em diferentes fases da vida, e das mais variadas formas.

Um simples resfriado pode nos acometer de uma forma mais branda e em pouco tempo pode passar; mas também pode virar uma pneumonia e até chegar a óbito, quando não cuidado adequadamente. Da mesma forma, a depressão, quando  não "cuidada", pode agravar e também ser fatal.

A depressão é a dor da alma e a grande dificuldade é que ela não pode ser vista , como uma fratura exposta pode.

Seguindo nessa analogia, para se cuidar e tratar uma fratura exposta, é preciso primeiro olhar para ela a fim de identificar o que esta acontecendo e qual a gravidade; ou seja, é preciso olhar para  enxergar o que ela mostra e então se poder optar pelos procedimentos a serem seguidos.

Nesse sentido, é preciso falar sobre a depressão e se escutar, para se poder "enxergar" essa dor invisível, e aí se buscar estratégias para tratá-la. Escutar o outro, que sofre essa dor, com respeito e dignidade, é fundamental. Cada depressão é única, porque cada manifestação depressiva reflete a singularidade de um sujeito, num dado momento.

Sendo assim,  é preciso escutar a própria depressão. Entendo que ela conta histórias que precisam ser escutadas e compreendidas.

Primeiro, como já visto, ela  conta da dor da alma, mas ela conta também da dificuldade do indivíduo de sentir-se como realmente é, e aponta que, provavelmente, ele esta sentindo-se como se fosse "menos": menos capaz, menos útil, menos adequado... Ela adverte que o indivíduo esta "apequenado" dentro de si. Ela indica que o sujeito não esta acreditando na força que tem; que não esta confiando no potencial e na capacidade que possui. Ela mostra que o "fazer" da vida, pode não estar coerente com a própria essência. Ela sinaliza que a expressão real de si pode estar sendo inibida. Ela evidencia que o indivíduo, provavelmente, esta abrindo mão de ser o sujeito da própria existência e esta assumindo - o que é pior - o lugar de objeto, submetido a um "modus vivendi" que não é seu, que não diz de sua alma. Ela conta que o prazer de ser quem é, esta precisando ser ressignificado. Enfim,  ela expressa urgência: a urgência de se resgatar a própria essência, ou em outras palavras, a urgência de resgatar o essencial de si mesmo.

O que causa a depressão?

Bem, gosto de pensar na depressão como um quebra cabeça, onde diferentes peças, quando unidas, fazem aparecer uma imagem, no caso:  "DEPRESSÃO".

Afetos não expressados, relações afetivas delicadas, auto-estima abalada, restrições físicas, carências fisiológicas e outras tantas possibilidades podem compor a imagem desse quebra-cabeça.

Sendo assim, ao se pensar em cuidar,  tratar  e mesmo prevenir a depressão é preciso, a meu ver,  focar diferentes aspectos:

Melhoria nas relações humanas, com certeza; ampliação das possibilidades de expressão da própria essência, também; ressignificação da autopercepção e da autoimagem, sem dúvida. Nesse sentido, as psicoterapias tem uma grande contribuição a dar. Mas, também, é vital resgatar os prazeres simples da vida.

Quando falo em simples, quero dizer realmente simples. Por exemplo:

Fazer contato com a natureza: cheiro de mato, som de água, canto dos pássaros, pé na grama, brisa no rosto, sol na pele. Tomar uns minutos de sol, pela manhã, ativa a produção de vitamina  D e de melatonina, colorindo a vida e movimentando o prazer.

Sorver aos goles, água límpida e fresquinha - base da fluência de vida - deixando a boca se deliciar com cada gole.  É bom lembrar que, aproximadamente 75% do nosso corpo é água. Ela é básica para tudo, desde a respiração até as reações químicas mais complexas das emoções.

Comida boa, cheirosa e apetitosa não pode faltar. Alimentação também é simples e vital, especialmente aquela rica em triptofanos, ômega 3, magnésio, vitaminas do complexo B e vitamina C, visto que esses  nutrientes são básicos para que o próprio corpo possa produzir hormônios  "antidepressivos".

Respirar. Ato essencial que promove uma troca significativa e vital, onde se oferece ao outro e ao planeta o melhor que tem a oferecer no momento, pela expiração, e onde se recebe o melhor que o outro e o planeta tem oferecer, pela inspiração, estabelecendo assim o elo primordial da existência.

Movimentar-se. Outra ação simples e significativamente importante na prevenção e tratamento da depressão é a prática regular da atividade física, visto que ela interfere de diferentes maneiras nesse processo. Num primeiro momento, ela favorece a circulação de sangue que, por si só, aumenta a oferta de oxigênio e de nutrientes às células do corpo e promove a limpeza metabólica; em outras palavras, nutre e limpa a "casa corpo". Além disso, estimula a produção de hormônios, como dopamina, serotonina, endorfina que favorecem a saída do quadro depressivo. E, por fim, essa prática auxilia na indução do sono.

E falando em sono... uma boa noite de sono ajuda a restabelecer não só o físico, mas também a cognição e as emoções, sendo portanto essencial no tratamento e na prevenção da depressão. É bom lembrar que os preparativos para a boa noite de sono começam com as escolhas feitas ao longo do dia. A adequação dos agentes estimulantes, como cafeína e excesso de luminosidade, inclusive dos computadores e celulares, especialmente próximo da hora de dormir,  é vital para se  garantir uma boa qualidade de sono.

Um banho gostoso  - e aqui novamente o contato com a água -, um creme agradável bem massageado pelo corpo, uma roupa limpinha, macia e cheirosa,  um perfume gostoso, dentes escovados, cabelo penteado, um visual agradável favorecem o prazer de estar na própria pele.

Um espaço iluminado, ventilado, confortável, organizado e agradável para se ficar, também faz parte do "bem-estar" e... agrada a vida.

Partilhar carinho e afeto com os animais, nem preciso dizer como é especial. O olho no olho, a roçada na perna quando querem carinho, o afagar do pelo, a lambida da mão... não tem preço.

Sair para dar umas voltas por lugares bonitos, ver gente diferente, conversar outros assuntos, respirar novos ares. O que quero dizer é: ver, sentir, escutar, degustar e colocar-se disponível para experimentar um mundo de possibilidades e vivências diferentes das do universo cotidiano revitaliza a alma.

Quer mais simples e mais vital que sentar para conversar com os amigos, almoçar juntos, trocar confidências, viver aventuras, dividir intimidades; enfim partilhar vida.

Finalizo destacando outra coisa vitalmente simples: o abraço. Ele induz a produção natural de ocitocina que, por sua vez, estimula o desenvolvimento do apego, da empatia, do sentimento de prazer e bem-estar. Mas, principalmente, o tal abraço nos faz sentir  pertencentes, acolhidos e aconchegados.

Como diz Rogério Flausino, "o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço...  tudo que a gente sofre, num abraço se dissolve..."

https://www.youtube.com/watch?v=IUO-o_Bg8AY




Maria Tereza Naves Agrello
CRP-MG: 13.506 e MEC-LO: 3047


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