Dentre as muitas histórias que um quadro ansioso conta, uma importante é que, muito provavelmente, o indivíduo está voltado, por demais, para o mundo externo e esquecido de si, do seu universo interno. Nesse momento os pensamentos costuma ser do tipo: "o que vão pensar de mim..." ; "e se eu não fizer isso ou aquilo..."; "tenho que fazer aquilo outro, senão..."; "não vai dar tempo disso ou daquilo..."; "e quando aquilo outro acontecer..."; "quando Fulano falar aquilo..."; "quando Beltrana fizer aquilo outro"; "será que..."; "e se isso..."; "e se aquilo..."
Lembro que ansiedade, bem como uma gripe, nos acomete num determinado momento da vida. Ambas podem evoluir para um estágio mais complicado; mas, quando acolhidas, elas podem nos ensinar, nos colocar atentos(as) para alguns comportamentos que precisam ser reorganizados, e ir embora.
Nereida Vilela, grande divulgadora dos ensinamentos da Leitura Corporal, reitera a importância do contínuo olhar para si, na perspectiva da qualificação do nosso viver, sendo vital a atenção consigo num grau suficiente para que "as fichas caiam" e a gente encontre a própria luz. De acordo com essa visão, estar atento (a) e acolher os próprios anseios é primordial nos "cuidados" para com a ansiedade. Na perspectiva da Leitura, todos os sinais e sintomas, inclusive os da ansiedade, estariam contribuindo no nosso processo de autociência, de autolocalização e, em última análise, estariam na essência do nosso movimento de autocura.
Já Jon Kabar-Zinn, criador do programa mindfulness de redução de estresse, considera que meditação e momentos de conforto, relaxamento e clareza são importantes para identificar as variações da ansiedade. Ele coloca ainda que a impermanência mental gerada pela prática da meditação favorece a felicidade, possibilitando a percepção de que é possível se viver sem um estado contínuo de opressão mental.
É bom lembrar que somos seres mutáveis por natureza, cada uma das células que compõem nosso corpo, bem como nossos pensamentos, sensações e sentimentos são mutantes. A tentativa de reter, de impedir esse processo natural de mutação, com regras e padrões rígidos de comportamento, é antinatural e adoecedor. Nesse sentido, frases do tipo "Eu sou ansioso", além de serem reforçadoras de um padrão condicionante, trazem em seu bojo uma perspectiva estagnada de si mesmo, imutável. E isso não condiz com a realidade de nossa essência mutável.
Para viver "bem-estar", é preciso se permitir "atualizar", continuamente, a percepção sobre os próprios "sentires". Mas, para que isso aconteça, é preciso permitir-se olhar para si mesmo, no aqui e no agora, sem julgamentos, sem culpas, sem autodeterminações, sem justificativas... simplesmente se permitindo experimentar-se no momento presente, como um presente, uma dádiva, de si para si.
Finalizo voltando a Kabat-Zinn, que diz gostar de pensar a meditação mindfulness como simplesmente a arte de uma vida consciente . Para ele, ela fornece uma rota simples, porém poderosa, para que o indivíduo se liberte e entre em contato com a própria sabedoria e vitalidade.
Agora, para a gente entrar da experimentação do que foi colocado aqui, segue a meditação guiada:
Gratidão, abraço carinhoso.
Maria Tereza Naves Agrello
CRP-MG: 13.506 e MEC-LP: 3047
Imagem de Elisa Riva, Pixabay
Referências:
Vilela, Nereida. Ansiedade e Espontaneidade: praticas de reritalização da pele e do sistema respiratório. https://www.youtube.com/watch?v=2OaLYy8cXDE
Kabat-Zinn, J. (1994). Wuerever you go, there you are. Mindfulness meditation in everyday live. New York: Huperion.
Kabat-Zinn, Jon (2013). Full Catastrophe living: using de wisdom of your body na mind to face stress, pain and illness. Rivised and updated edition. USA: Bantam Books.